Certa ocasião, o velho lenhador saiu para catar galhos de árvores no mato e, levado por nostálgicas lembranças, resolveu percorrer as antigas trilhas do seu passado como jovem lenhador. À medida que caminhava, foi notando que a paisagem estava se tornando diferente do que conhecia, até que, em dado momento, já não sabia onde estava.
Cansado de andar, parou junto a uma fonte de águas cristalinas e resolveu matar a sua sede. Com as mãos em formato de concha, bebeu lentamente aquela água gostosa, que desceu banhando sua seca garganta. De repente, sentiu que sua canseira havia desaparecido e que seu corpo experimentava uma sensação de vigor há décadas perdida.
O lenhador olhou para sua imagem refletida na água e levou um susto. Sua farta barba branca havia desaparecido juntamente com as rugas. No lugar da pele flácida e enrugada, vibravam músculos cheios de energia. Um milagre! O velhinho havia recuperado toda a sua mocidade! Estava novamente com aspecto de quem tem 18 a 20 anos!
Feliz da vida, com um sorriso que só os descobridores da fonte da juventude possuem, o lenhador voltou para casa cantarolando.
Lá chegando, quase matou a velhinha de susto. Ela não acreditava no que via. Aquele moço lindo, por quem se apaixonara há cerca de 50 anos, estava sorridente em carne e osso a sua frente.
O “ex-velhinho” tratou de tranqüilizá-la contando toda sua milagrosa história. A velha botava as mãos na cabeça e dizia, eufórica: “Onde fica essa fonte? Dessa água eu beberei aos montes!”. O lenhador explicou o caminho detalhadamente e foi dormir. Queria descansar, pois a carga emocional havia sido demais para um dia só.
Antes mesmo de o sol raiar, a velhinha saiu em busca da juventude perdida. Ela chorava e ria ao mesmo tempo. Não conseguira dormir, pois estava ansiosa em saber que também se tornaria bela e formosa.
Ao despertar com o canto dos pássaros, o lenhador percebeu que sua mulher tinha saído em busca do rejuvenescimento nas límpidas águas da milagrosa fonte e ficou em casa preparando um gostoso almoço para comemorar uma nova lua-de-mel. Porém, o tempo foi passado, passando, passando, a comida esfriando, esfriando, esfriando, e nada de a velhinha voltar. Não agüentando mais a pressão da ansiedade, o velhinho remoçado correu para a floresta.
Gritou chamando a velhinha, porém somente o eco respondeu o seu apelo.
Horas depois, cansado de tanto procurar pela companheira, ele fez uma pausa. Desiludido na procura, o lenhador aproximou-se da fonte para descansar. Nisso, ouviu, em um arbusto, o choro de um bebê. No primeiro momento, pensou que se tratava de sua imaginação, mas, como o choro persistia, resolveu verificar.
Entre as folhagens que margeavam a fonte, havia uma criança abandonada. “Uma menina com poucos meses de vida. Quem teria feito uma coisa desalmada dessas?” Pensando isso, o lenhador pegou o bebê.
A menina era tão novinha, que ainda não sabia falar, mas havia um magnetismo em seus olhos que revelava uma experiência de longa data. Tomado de profunda emoção, o moço entendeu tudo:
– Essa não! É você, minha velhinha! Foste muito afoita à fonte e bebeste água demais. A sede da eterna juventude fez você beber com exagero, agora és uma recém-nascida!
O lenhador deu um suspiro e caminhou de volta para casa. O amor romântico que o casal tanto sonhara não seria mais possível. Com a menina nos braços enquanto caminhava, o rejuvenescido lenhador começou sentir um amor paterno. Compreendeu que era hora de cuidar e proteger, como pai, aquela que, por tanto tempo, foi sua companheira. Um presente da natureza: uma filha que nunca tivera a oportunidade de ter.
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