Cai a chuva na parreira,
Linda folha se desprende
E deslizando sobre a corredeira
Cruza a fazenda inteira
E no rio se surpreende.
Vê sobre si uma formiga
Que procura pela terra,
Linda folha, boa amiga,
Que bondosamente abriga
A formiga enquanto espera.
E a chuva passa,
Então o vento se torna brando,
A formiga reconhece a graça
De ver ao longe a mata
Enquanto a folha continua deslizando.
A formiga pergunta à folha:
— Para onde estamos indo?
— Não sei, não foi minha escolha,
Mas espero que alguém nos recolha
Antes que o trajeto seja findo.
E a formiga quer saber:
— Mas aonde termina esta estrada
Que não pára de se mexer?
Já estou ficando assustada,
Também estou toda molhada,
Pare que eu quero descer.
E a folha, com tranqüilidade,
Pede para a formiga se acalmar,
Dizendo: — Eu também estou em dificuldade,
Pois esta estrada, na verdade,
Está nos levando para o mar.
— Ó meu Deus. A formiga grita.
— Precisamos de um urgente plano,
Pois se a água do rio nos agita,
Imagine então como é que fica
Uma folha perdida no oceano!
De repente a folha tem uma idéia:
— Que tal você parar de se queixar?
— Já que tem pernas feito centopéia
Nos tire desta odisséia,
Para isso basta apenas remar.
E a formiga escolhe um lado
E começa a agitar as pernas
E a folha agora é barco remado
Que aos poucos se vê ancorado
Na margem que esperava por ela.
A formiga arrasta a folha para fora do rio,
Mas percebe que ela se encolhe inteira,
Então vê que a folha sem egoísmo a conduziu,
Mesmo sabendo que teria um destino sombrio,
Pois não haverá vida para ela sem a parreira.
Eduardo de Paula Barreto